Trump usa pressão sobre Cuba no cerco à Venezuela
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, escalou mais um degrau em sua campanha aberta para derrubar Nicolás Maduro do comando da ditadura da Venezuela —o que não significa necessariamente acabar com o regime chavista, desde que seus interesses sejam atendidos.
A decisão de bloquear petroleiros de Caracas alvos de sanções, presumivelmente com os formidáveis ativos aeronavais mobilizados no Caribe desde agosto, encerra duas táticas no plano estratégico de se livrar do caudilho.
A primeira é a busca de uma pressão econômica suficiente para fazer as elites econômicas e militares, que na Venezuela são quase a mesma coisa, optar por alguma alternativa a Maduro.
A Venezuela exportou em 2025, a confiar em dados imprecisos, de US$ 1,5 bilhão a US$ 2 bilhões mensais em petróleo cru. Apesar de o valor parecer estável em relação a 2024, ele é impactado pelos maiores descontos dados por Caracas para seus clientes devido aos riscos e pela queda no preço do barril.
Além disso, as sanções americanas obrigam empresas locais que precisam importar insumos a trocar bolívares por petrodólares do Banco Central. De janeiro a novembro, a oferta desses valores caiu 15% segundo analistas, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Menos dólares significam custo maior para importar comida e bens essenciais, numa nação em que o Fundo Monetário Internacional calcula uma inflação de 548% em 2025.
Os EUA se estranham com a Venezuela desde a ascensão de Hugo Chávez ao poder em 1998. O antiamericanismo do regime o aproximou da Rússia e da China, que viraram fornecedores de armas e entraram no negócio petrolífero. O país caribenho tem as maiores reservas conhecidas do mundo.
Quando Chávez morreu em 2013, Maduro chegou ao poder diminuído. Restou a ele aprofundar o processo de controle da economia por setores do governo, notavelmente os militares, com um enorme grau percebido de corrupção.
Até 2019, a tática de Washington foi buscar a mudança de regime apoiando a oposição local, que se mostrou desorganizada e frágil em um ambiente de ditadura escancarada.
De lá para cá, as sanções voltaram à mesa, turbinadas pela perda de apoio regional da ditadura após as eleições fraudadas de 2024. Até o Brasil de Lula (PT), um apoiador de primeira hora do chavismo, se afastou, e agora não quer briga com Trump.
A segunda camada tática de Trump inclui Havana. Aliada e inspiradora do chavismo, Cuba tem grande poder em Caracas. Se o ministro Vladimir Padrino Lopez (Defesa) comanda os militares e o colega Diosdado Cabello (Interior) cuida da máquina repressiva, os serviços de inteligência são ligados à ilha comunista.
Desde 2000, um esquema fornece a preços camaradas 100 mil barris diários a Cuba. Isso ajudou o regime insular a sobreviver. A dependência prossegue: Cuba só produz um terço dos 120 mil barris que precisa todo dia, e neste ano recebeu de 25 mil a 50 mil diariamente da Venezuela.
O primeiro tiro da nova tática foi dado no dia 10, quando Trump apreendeu um petroleiro que ia para Cuba, e agora veio o bloqueio que ameaça 30 de 80 navios na região hoje.
Como a ilha tem enfrentado nos últimos anos protestos devido a problemas energéticos como apagões, a receita para a instabilidade temida pela ditadura é clara.
Com a influência cubana junto aos militares venezuelanos, se o nó apertar talvez Trump veja mais uma fonte de pressão contra Maduro. Ou apenas está contratando sua próxima tentativa de mudança de regime na região, como de resto é preconizado por sua nova Estratégia de Segurança Nacional.



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