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“O grande problema do HIV ainda é o preconceito”, destaca especialista em simpósio de prevenção em Sinop

“O grande problema do HIV ainda é o preconceito”, destaca especialista em simpósio de prevenção em Sinop

O enfrentamento ao preconceito continua sendo o maior desafio na luta contra o HIV. A avaliação foi feita pelo médico responsável pelo Simpósio de Prevenção ao HIV, realizado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), pelo Serviço de Assistência Especializada (SAI) e pela Liga Acadêmica de Infecções Sexualmente Transmissíveis.

Em entrevista ao Momento MT, o médico reforçou que, apesar dos avanços científicos e do acesso ampliado ao tratamento, o estigma permanece como uma das principais barreiras para diagnóstico precoce.


“Infelizmente, a história da AIDS é reforçada por um grande estigma e grandes preconceitos no início da epidemia e que ainda se fazem presentes. Hoje, sem dúvida nenhuma, apesar de todos os avanços, o grande problema do HIV ainda é o preconceito”, afirmou.

Segundo ele, o medo do julgamento ainda impede que muitas pessoas busquem atendimento.


“Por preconceito, um grande número de pessoas não se testa com regularidade. As pessoas só chegam aos serviços quando estão doentes, o que já mostra que a infecção foi muito antiga e muito tardia”, explicou.

Testagem para todos

O médico ressaltou que qualquer pessoa com histórico de relação sem preservativo deve ser testada.


“É preciso informar que não é necessário estar doente para fazer o teste. Toda pessoa que já teve relação sexual sem preservativo precisa ser testada. Só assim vamos reduzir o diagnóstico tardio”, disse ao Momento MT.

Ele destacou que o preconceito continua alimentando a ideia equivocada de “grupos de risco”.


“Preconceito também dificulta quando se acha que existe um grupo específico. Na verdade, toda pessoa está com possibilidade de ser infectada”, afirmou.

Idosos também precisam de atenção

O médico lembrou ainda que o aumento das relações sexuais na terceira idade exige políticas de prevenção adequadas.


“As pessoas estão vivendo mais, tendo mais relações e novas experiências mesmo depois dos 60 anos. É importante lembrar que toda mãe, pai, avó e até tia-avó precisa ser testada também”, disse.

Qualidade de vida e maternidade são possíveis

Ao Momento MT, ele reforçou que a infecção por HIV não impede a construção de uma família.


“Existe um grande número de mulheres com HIV que tiveram filhos sem HIV. Nascer sem HIV é uma realidade quando há testagem e pré-natal de qualidade”, afirmou.

Ele citou como exemplo a cidade de Sinop, que está há 12 anos sem registrar transmissão vertical.


“Se cidades grandes podem, as pequenas também podem. Toda mulher, com HIV ou não, tem direito a ser mãe”, destacou.

Prevenção combinada

O médico também falou sobre as estratégias de prevenção, como preservativo, PEP, PrEP, testagem regular e início imediato do tratamento.


“A prevenção só vai acontecer se todas as unidades fornecerem testagem e se tivermos mais profissionais capacitados. A PEP é uma emergência, e quem teve relação desprotegida tem direito a usá-la”, explicou.

Ele acrescentou que a PrEP é uma alternativa segura para quem não utiliza preservativo.


“As pessoas que não usam preservativo e querem usar medicação como profilaxia também estão fazendo prevenção”, disse.

Sobre o tratamento, reforçou o conceito de indetectável = intransmissível.


“Tratar precocemente leva a pessoa à carga viral indetectável. E indetectável é igual a intransmissível. Isso também é prevenção”, concluiu.

Parcerias que fortalecem a prevenção

A parceria entre UFMT, SAI e Liga Acadêmica teve início em 2024, com a implantação da unidade de autoteste aprovada pelo CNPq. A partir desse projeto, surgiu o simpósio, que busca debater avanços e ampliar estratégias de cuidado.

Ao finalizar a entrevista ao Momento MT, o médico reforçou a importância da comunicação como ferramenta de transformação:


“Precisamos divulgar testagem, PEP, PrEP, tratamento e reduzir preconceito. Esse é o caminho para termos cada vez menos pessoas infectadas e mais pessoas vivendo com saúde e dignidade”.

Por Momento MT

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