Mato Grosso é o Terceiro Estado com Mais Resgates de Trabalhadores Escravizados no Brasil
Fonte: Yan Rocha/RBT News com informações do CenarioMT
Mato Grosso se destaca negativamente como o terceiro estado brasileiro com maior número de resgates de trabalhadores em condições análogas à escravidão nos últimos 28 anos. Dados do Observatório da Erradicação do Trabalho Escravo e do Tráfico de Pessoas revelam que, entre 1995 e 2023, 6.149 trabalhadores foram libertados no estado, representando 10,1% do total nacional. Apenas Pará, com 13.459 resgates (22,1%), e Minas Gerais, com 7.098 resgates (11,7%), registraram números maiores.
Confresa, a 1.160 km de Cuiabá, é o município com mais resgates no Brasil, somando 1.393 trabalhadores libertados. Ulianópolis e São Félix do Xingu, ambos no Pará, vêm em seguida, com 1.304 e 1.166 resgates, respectivamente.
A maioria dos resgatados em Mato Grosso são homens jovens, de 18 a 24 anos. Desses, 1.683 (27,4%) trabalhavam na criação de bovinos, 1.624 (26,4%) na fabricação de álcool, e 642 (10,4%) no cultivo de cana-de-açúcar. Além disso, 919 vítimas nasceram na própria localidade, indicando um problema endêmico.
Os dados educacionais são preocupantes: 19,9% dos resgatados são analfabetos, 37,2% não completaram o 5º ano e 22,4% não terminaram do 6º ao 9º ano. Entre os 1,9 mil trabalhadores que residiam na localidade, 27,1% são analfabetos, 40,5% têm até o 5º ano incompleto e 17,7% não completaram o 6º ao 9º ano.
Amarildo Borges, superintendente regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), atribui o alto índice de trabalho escravo em Mato Grosso à predominância da atividade agrícola e ao desmatamento. “A maioria dos resgates ocorre em áreas rurais, revelando a contradição do agronegócio, que produz muito, mas não transfere benefícios aos trabalhadores. Paga-se um dos menores salários e exige-se pouca ou nenhuma qualificação profissional ou educação”, afirmou Borges.
Borges destacou ainda que a vulnerabilidade social, a pobreza e a baixa escolaridade levam as pessoas a aceitar essas condições de trabalho. Muitos são enganados e aliciados com falsas promessas. “Eles não recebem o que foi prometido e acabam endividados pelos empregadores, que cobram abusivamente desde o deslocamento até a alimentação e equipamentos de trabalho”, explicou.
As autoridades intensificam esforços para combater essa prática criminosa, realizando fiscalizações e operações de resgate. É essencial implementar políticas públicas que ofereçam alternativas de emprego digno e promovam educação e qualificação profissional para reduzir a vulnerabilidade dessas populações.
O combate ao trabalho escravo requer uma abordagem multifacetada, incluindo a repressão aos infratores e a promoção de condições que impeçam a perpetuação dessa prática. Erradicar o trabalho escravo é um desafio contínuo que exige a colaboração de todos os setores da sociedade.