Glauber Braga é retirado à força após tentar ocupar cadeira de presidente da Câmara; veja vídeo
O deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) ocupou nesta terça-feira (9) a cadeira do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), contra a decisão dele de pautar o processo que pede a cassação de seu mandato por chutar um militante de direita que o perseguia na Casa.
A votação, prevista para esta semana, ocorrerá paralelamente à votação para decidir sobre a perda do mandato dos deputados Carla Zambelli (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), que foram condenados pela Justiça e estão foragidos.
“Há uma ofensiva em que o único mandato de fato atingido é o mandato que me foi conferido pelo povo do Rio de Janeiro”, afirmou Braga, enquanto presidia a sessão. Ramagem e Zambelli não estão participando das sessões por estarem fora do país —ela, presa na Itália, e ele, morando nos Estados Unidos.
O deputado já presidia a sessão, então decidiu ocupar a cadeira de Motta e se recusou a sair. “Eu vou me manter aqui firme até o final dessa história. […] Eu aqui ficarei até o limite das minhas forças”, disse no plenário.
Após Glauber anunciar seu protesto, a sessão foi suspensa e deixou de ser transmitida pela internet.
A polícia legislativa determinou a retirada dos jornalistas do plenário, enquanto tratava da saída de Braga da mesa diretora, para evitar imagens. Apenas deputados tiveram acesso à cena e divulgaram vídeos da polícia retirando Glauber à força.
A confusão da expulsão se seguiu pelo salão verde, com jornalistas, policiais e deputados em um tumulto com empurra-empurra e agressões. Em seguida, o deputado deu entrevista à imprensa —a deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), mulher do deputado, e outras deputadas choravam durante a fala do deputado.
Glauber passou ainda por um exame de corpo de delito.
O ato de Glauber está sendo comparado ao motim bolsonarista, que tomou conta da Mesa Diretora no início de agosto, e, nos bastidores, foi criticado até por deputados de esquerda, por utilizar o mesmo método que eles criticaram anteriormente.
A avaliação de aliados de Glauber é a de que sua atitude aumentou as chances, que já eram grandes, de que ele seja cassado pelo plenário.
O deputado, ao falar com a imprensa após a expulsão, disse que, no caso do motim bolsonarista, “sobrou negociação, sobrou diálogo”. “Em nenhum momento foi cogitada a possibilidade de retirar à força aqueles deputados pela polícia legislativa.”
Mais cedo, durante a sessão, o deputado disse que permaneceria na Mesa “de maneira democrática e não violenta”.
“Eu vou ficar aqui calmamente, com toda tranquilidade, exercendo o meu legítimo direito político de não aceitar como fato consumado uma anistia para um conjunto de golpistas, […] mantendo os direitos políticos de Eduardo Bolsonaro e gerando, para mim, que fiz esse enfrentamento, oito anos de inelegibilidade”, disse.
Questionada sobre quem determinou que a imprensa fosse barrada e a sessão não fosse transmitida, a assessoria de Motta não respondeu. O presidente também não respondeu sobre se houve ordem para agressões de policiais a deputados e jornalistas.
“Determinei também a apuração de possíveis excessos em relação à cobertura da imprensa”, publicou nas redes.
Após a confusão, Motta se manifestou pelo X e por meio de um discurso no plenário. Ele reabriu a sessão normalmente, com as votações previstas para o dia. Deputados da esquerda criticaram a retomada dos trabalhos após os episódios de agressão, enquanto parlamentares da direita defenderam a atitude do presidente.
O presidente da Câmara pretende colocar em votação ainda nesta terça o PL da Dosimetria, que reduz a pena imposta ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e outros envolvidos nos ataques golpistas de 8 de Janeiro. O tema está pautado no plenário, mas atrasou devido à confusão.
O deputado Dorinaldo Malafaia (PDT-AP) disse que teve o braço machucado pela polícia enquanto negociava a saída de Glauber e acusou Motta de dar as ordens para a agressão dos parlamentares. “Vossa Excelência perdeu a moral, condição e respeito público”, disse, segundos antes de ter o microfone cortado.
Segundo Malafaia, foram agredidos, além dele, Glauber e Sâmia, também os deputados Rogério Correia (PT-MG) e Célia Xakriabá (PSOL-MG).
“Quando o deputado Glauber Braga ocupa a cadeira da Presidência da Câmara para impedir o andamento dos trabalhos, ele não desrespeita o presidente em exercício. Ele desrespeita a própria Câmara dos Deputados e o Poder Legislativo”, publicou Motta no X.
“O agrupamento que se diz defensor da democracia, mas agride o funcionamento das instituições, vive da mesma lógica dos extremistas que tanto critica. […] Extremismos testam a democracia todos os dias. E todos os dias a democracia precisa ser defendida”, completou.
Glauber teve a recomendação da cassação do mandato aprovada pelo Conselho de Ética da Casa em abril por agressão a um militante do MBL (Movimento Brasil Livre). No mesmo dia, ele iniciou uma greve de fome só encerrada após compromisso de Motta de não pautar a votação do caso em plenário no primeiro semestre. Cabe ao plenário a última palavra a respeito da decisão do conselho.
O deputado disse que, no caso da agressão, se exaltou após o militante do MBL ofender a sua mãe, que estava em estágio avançado de Alzheimer e viria a morrer dias depois. Afirmou ainda ser vítima de perseguição política patrocinada nos bastidores pelo ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL), que nega. Já o conselho de ética entendeu que ele quebrou o decoro parlamentar e recomendou a cassação.
“A minha presença hoje na Mesa Diretora da Câmara foi exatamente para demonstrar que a gente não pode se render. Do que é que me acusam de ter defendido a honra da minha mãe, de ter denunciado orçamento secreto, de ter batido de frente com o todo poderoso Arthur Lira? Me desculpe, mas isso não é nenhum motivo para cassação de mandato”, disse Glauber.
Antes da expulsão, o líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), afirmou que iria buscar uma saída política e criticou a restrição de acesso da imprensa.
Lindbergh, que se opôs ao motim bolsonarista na época, disse a respeito de Glauber que “esse não é o melhor método”, mas atribuiu a nova tomada da Mesa à falta de punição de Motta em relação ao motim bolsonarista.
“Tem uma responsabilidade muito grande do presidente da Casa por não terem sido punidos aqueles golpistas que sequestraram a Mesa da Câmara dos Deputados. Então, nós estamos querendo achar uma saída, porque esse não é o melhor método. Não é a melhor forma de se resolver um problema como esse”, disse o petista, acrescentando ser solidário a Glauber.




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