Vídeo sobre “evacuação” de Sorriso (MT) gera alarme, mas economista diz que cidade está entre as que mais crescem no país
Um vídeo que circulou nas redes sociais neste fim de semana provocou alvoroço entre moradores e internautas de todo o estado. Nas imagens, um homem relata, visivelmente impressionado, a grande quantidade de placas de “aluga-se” espalhadas por residências e comércios em Sorriso (MT), no norte do estado. Segundo ele, a cidade estaria passando por um “êxodo urbano” e já “não é mais a mesma de três anos atrás”.
A gravação viralizou rapidamente, levantando dúvidas sobre uma suposta crise econômica no município. Para apurar a veracidade da situação, o Jornal da Manhã, de Sinop, convidou o economista e professor universitário Feliciano Azuaga para analisar os dados e esclarecer os fatos.
“Sorriso ganhou 15 mil habitantes em 2 anos”
Segundo o economista Feliciano Azuaga, a narrativa apresentada no vídeo não condiz com a realidade econômica de Sorriso. Muito pelo contrário: os dados mostram um cenário de expansão populacional e econômica acelerada.
“Sorriso tinha cerca de 110 mil habitantes em 2022. Em apenas dois anos, a população saltou para quase 125 mil. É um crescimento populacional de quase 7 mil pessoas por ano,algo muito acima da média nacional”, destacou o economista.
Conforme o especialista, esse crescimento gera uma demanda de aproximadamente 3 mil novos imóveis por ano, o que pode justificar a percepção de imóveis vagos em certos pontos da cidade sem que isso signifique necessariamente uma crise.
Mudança de perfil nos imóveis comerciais
Feliciano Azuaga também explica que o cenário observado pode estar relacionado a mudanças no perfil de consumo e infraestrutura exigida pelos novos negócios. Estruturas antigas, sem estacionamento, climatização adequada ou localização estratégica, acabam ficando para trás.
“Não é uma crise econômica. É um ajuste natural do mercado. Os negócios hoje querem mais estrutura, visibilidade e conforto. Alguns imóveis podem ter se tornado obsoletos para os padrões atuais”, explicou.
Mercado de trabalho em alta
Sobre o emprego, os números também são positivos. De acordo com dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), Sorriso gerou mais de 2.300 novas vagas com carteira assinada só em 2025. O setor de serviços lidera com 850 contratações, seguido pela construção civil com 270 vagas.
Além disso, Sorriso figura no Top 10 nacional das cidades com maior percentual de residências cuja renda principal vem do trabalho, segundo levantamento do IBGE.
“Enquanto no Brasil a média é de 5%, em Sorriso 92% das casas vivem do trabalho. Isso mostra uma cidade altamente produtiva, com força econômica própria”, pontuou Azuaga.
Capital do agronegócio segue firme
Outro fator que sustenta o crescimento da cidade é sua posição estratégica no agronegócio. Sorriso segue como o maior produtor de soja do país e está entre os líderes na produção de feijão.
Além disso, dados oficiais mostram que Sorriso movimentou cerca de R$ 7,2 bilhões em valor de produção agrícola e recebeu 1,8 bilhão de dólares em recursos externos até setembro deste ano,o que representa aproximadamente R$ 9 bilhões injetados na economia local.
O poder (e o perigo) de um vídeo viral
A repercussão do vídeo nas redes sociais acendeu um alerta sobre o impacto de conteúdos descontextualizados ou sem base em dados.
“Um vídeo feito dentro de um carro, por alguém que nem sabe do que está falando, viraliza e coloca em dúvida o trabalho sério de uma cidade inteira. Isso pode afetar investidores, desinformar a população e manchar a imagem de Sorriso injustamente”, disse um dos apresentadores da rádio.
Conclusão: não há crise,há expansão
Ao final da entrevista, Feliciano Azuaga foi categórico:
“Quem não está conseguindo gerar renda em Sorriso talvez precise rever suas estratégias. A cidade continua crescendo, gerando emprego, atraindo investimentos e se consolidando como uma das potências do agronegócio nacional.”
A recomendação dos especialistas e comunicadores é clara: antes de tirar conclusões precipitadas, consulte os dados. E, acima de tudo, não compartilhe conteúdos sem checar a veracidade das informações.
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