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5º Apitaço pelo fim da violência contra a mulher mobiliza Lucas do Rio Verde diante do crescimento alarmante dos feminicídios

5º Apitaço pelo fim da violência contra a mulher mobiliza Lucas do Rio Verde diante do crescimento alarmante dos feminicídios

 

A AMEC — Associação de Mulheres em Busca da Cidadania realiza, no dia 30 de novembro de 2025, às 17h, na Praça do Bairro Rio Verde, em Lucas do Rio Verde, o 5º Apitaço pelo Fim da Violência contra a Mulher, dentro da campanha dos 21 Dias de Ativismo. O ato, que já se tornou tradição no município, mantém o propósito de ocupar o espaço público como forma de denúncia, mobilização popular e proteção comunitária diante da permanência da violência de gênero que atravessa Mato Grosso há anos.

 

A importância do evento se evidencia no cenário atual: só em 2025, o estado já registrou 50 feminicídios, número que vem acompanhado de outro dado devastador — mais de 89 crianças e adolescentes ficaram órfãos após perderem suas mães para crimes motivados por gênero. A persistência e o aprofundamento desse quadro mostram que, diferentemente de datas comemorativas ou ações pontuais, o Apitaço é parte de uma mobilização contínua que reafirma, ano após ano, que a violência machista não dá trégua e precisa ser enfrentada de forma permanente.

 

O município de Lucas do Rio Verde, onde o Apitaço é organizado pela filial local da AMEC desde 2002, tem vivido episódios particularmente graves.

 

A morte de Antonieta Barroso dos Santos, assassinada a facadas na madrugada de 29 de outubro por um homem que não aceitava o fim do relacionamento, reacendeu o debate sobre a vulnerabilidade das mulheres que tentam romper ciclos de violência. Antonieta, assim como tantas outras, foi morta dentro de casa — o lugar onde deveria estar segura.

 

Em nota de repúdio, a AMEC lembrou que Lucas do Rio Verde já contabiliza, este ano, vários feminicídios e tentativas de feminicídio, deixando famílias destruídas e crianças desamparadas. A entidade destacou que cada mulher assassinada deixa “órfãos do feminicídio”, vítimas indiretas que sofrem por toda a vida as consequências de um crime marcado pelo machismo estrutural e pela desigualdade.

 

Outro caso que mobilizou a cidade e gerou forte comoção foi o assassinato da empresária Gleici Keli Geraldo de Souza, de 42 anos, morta a facadas enquanto dormia pelo marido, o engenheiro agrônomo Daniel Bennemann Frasson, de 36.

A filha do casal, de apenas 7 anos, também foi esfaqueada durante o ataque. O acusado, preso preventivamente, tenta agora se declarar inimputável para evitar responsabilização penal — tentativa que revoltou a filha da vítima, que se expressou nas redes contando que Frasson já fazia violência psicológica com Gleici, além de moradores e ativistas, especialmente após a menina relatar o terror vivido pela irmã naquela noite.

Esses casos, somados ao de Antonieta e aos inúmeros episódios que não chegam à imprensa, evidenciam um padrão já denunciado pela AMEC: a violência contra a mulher não é exceção, não é tragédia isolada, não é fruto de descontrole momentâneo.

É um problema enraizado, repetido, previsível — e muitas vezes evitável, se existissem proteção efetiva, acolhimento estruturado e respostas rápidas do poder público.

 

A persistência da violência e a necessidade de mobilização permanente

 

Embora as autoridades estaduais mantenham painéis de monitoramento e registrem avanços investigativos, organizações da sociedade civil reiteram que a impunidade — real ou percebida — ainda alimenta a continuidade da violência. Em muitos municípios, especialmente no interior, faltam delegacias especializadas, abrigos de proteção, equipes multidisciplinares, psicólogos, defensores e políticas estáveis de autonomia econômica para mulheres que desejam deixar seus agressores.

 

O resultado desse conjunto de lacunas é visível: medidas protetivas descumpridas, denúncias interrompidas por medo, mulheres convivendo com agressores por falta de alternativas de moradia e crianças crescendo em ambientes inseguros.

 

É nesse contexto que o Apitaço se fortalece como ato político e comunitário. Para a AMEC, o som do apito funciona como alerta e convocação: chama vizinhos, desperta quem silencia, interpela quem não quer “se meter”, e reafirma que a violência de gênero não pode seguir sendo tratada como “problema doméstico”.

 

Cultura, memória e resistência

 

A programação do 5º Apitaço inclui danças típicas, rodas de capoeira e viola, reforçando o caráter cultural e comunitário que marca o evento desde sua criação. A escolha por manifestações culturais não é casual: são elas que costuram pertencimento, memória e identidade — elementos fundamentais para criar redes de apoio que, muitas vezes, salvam vidas.

 

A AMEC enfatiza que enfrentar o feminicídio exige tanto políticas públicas quanto engajamento social. É nas praças, nas escolas, nas igrejas, nos bairros e nas relações cotidianas que a mudança começa. O Apitaço, nesse sentido, materializa a ideia de que a prevenção passa também pela conscientização coletiva e pela recusa ao silêncio.

 

Ao se posicionar publicamente contra casos como os de Antonieta, Gleici Keli e tantas outras, a AMEC reforça seu papel histórico em Lucas do Rio Verde: o de estar ao lado das mulheres, acolher famílias, denunciar a negligência estrutural e exigir respostas firmes e eficazes do Estado.

 

O 5º Apitaço não nasce do aumento de feminicídios; ele resiste apesar deles. Ele existe porque ano após ano a violência persiste, porque órfãos seguem surgindo, porque histórias são interrompidas e porque a sociedade ainda não reconheceu em totalidade a urgência do problema.

 

Como diz a própria AMEC em sua nota oficial: “Não aceitaremos o silêncio. Nenhuma a menos. Por todas nós, por cada uma.”

Por Momento MT

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